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Pode ser que a oportunidade de trabalho em outra organização tenha chegado de surpresa, pode ter sido por indicação de outra pessoa, ou o profissional mesmo a tenha buscado com afinco. O fato é que, principalmente para aqueles que estão construindo a carreira profissional, mudar de empresa por vontade própria é algo complexo, que pode até tirar o sono de quem passa por isso.

“Match cultural” é uma expressão relativamente nova.  Pode ser definida de forma simples como o ponto de convergência entre a empresa e o colaborador.

Antes de iniciar um processo de transição de empresa, o mais sensato é buscar conhecer ao máximo essa empresa: o modo de operação do negócio, se atua com base em diretrizes e estratégias e, principalmente, qual é a cultura organizacional. O mais comum em situações como essa é o profissional colocar sua atenção – e tensão – nas questões práticas, como o pacote de remuneração ou, outro exemplo, se atende aos requisitos da função com as suas competências. Eu digo aos meus clientes de consultoria: em primeiríssimo lugar preocupe-se em analisar se há identificação entre você e a cultura da empresa.

E o que é cultura organizacional? A raiz da cultura corporativa são as crenças e a filosofia compartilhadas sobre como o negócio deve ser conduzido. A cultura manifesta-se nos valores e princípios, nos padrões e políticas, e também nos relacionamentos com os atores organizacionais – gestores, colaboradores, clientes, parceiros, fornecedores, investidores, órgãos regulamentadores e comunidade.

Para elucidar o conceito de cultura corporativa, trago quatro modelos:

CULTURA FORTE

Na empresa de cultura forte há uma filosofia clara e explícita sobre como o negócio deve ser conduzido. Os valores, políticas, normas e práticas são compreendidos e disseminados internamente. Existe preocupação verdadeira com todos os envolvidos.

CULTURA FRACA

Por ser altamente fragmentada, a cultura fraca ocasiona conflitos constantes em função das várias subculturas existentes, e nem sempre aparentes. Possui poucos valores e normas compartilhados, e tradições fortes são quase inexistentes. Nas empresas de cultura fraca é muito difícil encontrar pessoas com senso de pertencimento, pois o trabalho é percebido apenas como um meio de subsistência.

CULTURA HOSTIL

Nas empresas de cultura hostil o ambiente é politizado, os gestores operam de maneira autônoma junto aos seus feudos e resistem às mudanças com unhas e dentes.  Garantir o emprego é o que importa em empresas assim, já que não há espírito colaborativo e raras são as oportunidades de aprendizado e crescimento. Por se achar autossuficiente, empresas com cultura hostil não buscam modelos e práticas superiores fora da empresa.

CULTURA ABERTA OU ADAPTATIVA

Nessas empresas há receptividade ao risco, experimentação, inovação. Mudanças de estratégias e práticas são naturalmente entendidas como pontos de partida para implementação de soluções viáveis frente aos problemas internos e às demandas do mercado. Outro aspecto nítido em culturas abertas é a liberdade para troca de ideias, a sinergia entre as áreas, espaço para criar, diversidade e respeito mútuo. Nessas organizações os líderes têm comprometimento com os princípios do negócio e com os atores organizacionais. O estilo de gestão é participativo, pois ali é sabido que o papel de quem está na liderança vai muito além de dar ordens ou distribuir atribuições. O ponto alto na cultura aberta/adaptativa é o sentimento de confiança, o que faz muita diferença quando surgem ameaças e oportunidades para o negócio.

Em suma, antes de tomar decisões sobre mudar de empresa, principalmente se a posição atual lhe traz segurança, pesquise muito na internet, leia sobre a história da empresa, seus produtos ou serviços, descubra o que os clientes pensam dela, converse com pessoas influentes. Mas, atenção! Pesquisar é necessário, mas não suficiente (como se diz em filosofia). A principal “tarefa de casa” é voltar-se para dentro. Pense cuidadosamente sobre seus valores pessoais, suas necessidades no curto e médio prazo, objetivos de carreira e aspirações profissionais.

O saber de si é a chave para ver se você se identificaria com a empresa ou não. Lembre-se que, por razões óbvias, é muito mais fácil o colaborador se adaptar à empresa do que o contrário. Por outro lado, se a empresa atual não o valoriza como você sente que deveria, não se deixe tomar pelo medo da mudança.

Certamente, a identificação do profissional com a empresa é algo vantajoso para ambas as partes – colaborador e empresa. Quando há um forte sentimento de orgulho em fazer parte da empresa o profissional torna-se a vitrine viva daquela cultura.

Elenice Brusque é Psicóloga por formação e Consultora de carreira. Atende presencial e remotamente.